segunda-feira, 16 de março de 2009

Takaurana e a flor-de-lótus





Num dos seus momentos de questionamento, o jovem monge Takaurana buscava encontrar a personificação de Bondade e Auto-Elevação. Via tudo isso no Buddha, seu grande Iluminador, porém, não se sentia satisfeito. Algo faltava, algo mais tangível. Como de costume, ia passear nas belas veredas e jardins do Templo, buscava aspirar o encontro com esta Verdade. Ia passeando pelos belos bosques ao pé do Templo, quando percebeu que já havia caminhado o dia todo. Triste, ele voltou para seu quarto, já à noitinha, sem ir ter com seus irmãos, a meditação noturna. Vendo que Taukaurana não compareceu, o Mestre se retirou da meditação, e foi buscar seu jovem pupilo. Praticamente deduzindo onde Takaurana se encontrava, viu o pupilo encolhido num canto, aos prantos. Numa ternura que apenas um Grande Mestre pode dispor, foi até o jovem monge, limpou suas lágrimas e o questionou:


- Que perturba sua jovem alma, meu pupilo?
- Mestre, me perdoe. Eu sou um fracasso...
- Perdoá-lo? Pelo oquê?
- Sou um fraco mesmo. Eu fiquei o dia todo procurando a forma da Bondade e Elevação. Mas andei por todo o Templo, e nada encontrei. Nem mesmo com o Grande Buddha eu encontrei...
- Ora, mas você procurou no lugar errado...
- No lugar errado? Mas andei por todo lugar...
- Sim, você por todo Templo... Não buscou lá fora.
- Mas o Reino é muito grande... Onde procurarei?
- Amanhã eu te levarei ao encontro com a forma da Bondade e Elevação. Esteja pronto logo pela manhã, está bem?
- Sim, estarei, meu Mestre...
Logo pela manhã, Mestre e Pupilo estavam prontos para procurar a forma da Bondade e Elevação. O dia havia nascido numa manhã fria, escurecida pelas nuvens que anunciavam uma chuva fina e fria, acompanhada pela névoa típica da época. O Mestre fez uma pequena prece e logo partiu. Takaurana estava um pouco assustado, mas acompanhou o Mestre. Parecia que a Luz do mundo os havia deixado.


Andaram por um bom tempo, até que chegaram ao seu destino. O Mestre apontou para o jovem monge um pântano.


- Lá você encontrará a Forma da Bondade e Elevação. Ande até se cansar e depois volte.


Com a Disciplina de um Monge, Takaurana se pôs a caminho, mesmo sentindo um medo que lhe arrepiava a alma. Logo na entrada do pântano, já havia um problema. Seus pés afundaram até o joelho, numa lama fria e pegajosa. Lutando para vencer a lama e se esquivando dos cipós e arvores baixas, Takaurana continuou até se cansar. Quando tomou fôlego sentiu a frustração tocar-lhe a alma; “Onde poderei encontrar a forma da Bondade e Elevação neste lugar escuro? Nada aqui é vida..” Quando se levantou para começar o caminho de volta, ele pode notar uma pequena cor avermelhada, no meio daquela imensidão cinza e negra. Isso lhe chamou tanto a atenção, que o jovem monge lutou mais uma vez com a lama e os cipós. Ao chegar mais perto, pode ver num pequeno lago lodoso, uma pequena flor, que boiava sobre a água. Sua cor era brilhante, vermelho, rosa, violeta, lilás, faziam parte de suas pétalas, todas distribuídas de baixo para cima, e dentro da flor, um delicado botão amarelado, quase um amarelo ouro. Deslumbrante e perfumada, assim era aquela flor, na visão de Takaurana. Logo ele percebeu que tinha que voltar, seus pés já estavam ficando muito frios. Ao sair do pântano, viu seu Mestre sentado ao lado de uma fogueira, terminando de esquentar água numa chaleira de ferro. Takaurana logo foi se sentando ao lado da fogueira, e de imediado recebeu num pequeno pote de porcelana, com um pouco de chá quente. Depois do jovem monge tomar um pouco de chá, o Mestre lhe perguntou:


- Encontrou?
- De tudo que há de mais feio que eu já vi, nada se compara àquele lugar.
- Sem dúvida, é um lugar de desolação...
- Sim, com certeza, mas algo me chamou a atenção.
- E que era?
- Eu vi uma flor deslumbrante, no meio daquela fedentina. Até mesmo seu perfume superou aquele fedor. Uma beleza sem igual...
- Que bom, fico muito feliz. Você encontrou a forma da Bondade e Elevação.
- Encontrei? Naquela flor?
- Sim, aquela pequena flor, é chamada de Lótus. Flor-de-lótus.


Takaurana ficou espantado. Como era possível? O símbolo do Buddha ficava num lugar desolado, envolvido pela escuridão. Prevendo os pensamentos do seu pupilo, o Mestre disse:


- É necessário ser flexível para ser bondoso. É necessário conhecer-se para se auto-elevar. É necessário reconhecer que somos um pântano de pensamentos confusos para podermos enxergar um pouco de Luz. E assim seremos como o Lótus, que mesmo morando no pântano, é capaz de se desenvolver na mais bela das flores, abrindo-se para a Sabedoria dourada.


É nos encontrando num estado de desolação,
que somos capazes de nos enxergar como seres criados,
e criadores.
Mesmo quando o mundo está mergulhado no Caos e Dor,
sou capaz de transformá-lo dentro de mim,
e devolver Beleza, Perfume e Luz.
Esta é a Sabedoria do Lótus.


Com Carinho Compartilho,


Anjo Guardião Branco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mais uma vez me deparo com um grande ensinamento e encho minha alma de esperanças e alegrias.
Obrigada por compartilhar!!

E.I.R. disse...

Como que se eu acompanha-se pessoalmente mais esta viagem de Takaurana, novamente me surpreendi com os profundos ensinamentos contidos na história.

Acredito que o grande despertar relaciona-se com atingir um nível de consciência onde saibamos bem em que pântano estamos, e tenhamos a sabedoria e força para nos voltar para os céus e irradiar a Luz Divina que é plena, mas que nesta escuridão podemos divisar apenas alguns de seus reflexos.

Um abraço fraterno.

Eduardo Isaac