
Takaurana e a viajem.
Houve o tempo de estudar. Houve o tempo de meditar. Aprender. Caminhar.
Agora é chegado o tempo de Peregrinar.
Estas palavras do Mestre atingiram em cheio Takaurana. Ele não se sentia pronto para se lançar no caminho ermo, errante, sem destino definido. O Jovem Monge não sabia onde iria parar, nem mesmo se sobreviveria a essa viajem. Seu coração estava pesado, questionamentos fervilhavam na sua mente: "Para onde vou? Que vou comer? Que vou vestir?"
Pairava na sua alma, uma Sombra.
Talvez a mais fugaz das Sombras; A Dúvida. Esta mancha na psique humana, é a "devoradora de homens", é a limitadora, a usurpadora. É o Dragão de Ébano pronto para devorar o incauto, acabar com suas lições, suas conquistas. Era o enganador primal, este que servia-se do coração de Takaurana, nesse momento.
Lágrimas inevitáveis caiam do rosto jovem do Monge. Já sentia saudade do Mestre, já idoso, do Templo, dos seus deveres, do seu quarto. Já sentia-se faminto, mesmo estando sem fome.
- Meu Filho... Não se assombre. Você Está pronto...
- Mas Mestre, e se eu não conseguir? Tiver Medo? Ficar doente?
O Mestre, com seu terno e eterno modo de ensinar, lembrou Takaurana de sua condição:
- Lembre-se do Jasmim...
- Aquele que o senhor me deu?
- Sim, este mesmo. Era uma bela flor, ótimo aroma, e foi bem cuidado. Mas mesmo assim, ele terminou sua jornada...
Takaurana tremeu. Entendeu o quê o Mestre queria dizer... Sua hora estava chegando...
- Vejo que entendeu, meu filho. Preciso que você continue suas lições. A senda precisa sempre ser buscada, ser acolhida na sua alma. Eu não vou durar muito mais, minha jornada está no fim. Preciso que você busque a Montanha Sagrada, para que sua iniciação aconteça. Para isso, você deve passar no teste final... A Jornada do Monge.
Mesmo quando a casa se afasta,
mesmo quando a Sombra lhe faz companhia,
o Monge deve se manter, se lembrar,
que nada neste mundo é eternamente igual,
se muda, transforma,
entra noutro caminho.
Peregrina.
Assim, o Monge deve sempre Peregrinar,
para se lembrar desta condição,
e também ensinar seu pés,
que mesmo descansando,
eles devem caminhar, peregrinar,
em busca da sua Montanha Sagrada,
sua Eterna Morada,
que é a si mesmo.
A Casa e o Templo do Monge é o seu Coração.
Esta é a Sabedoria da Jornada.
Limpando as lágrimas que agora rolavam sem parar, Takaurana abraçou seu eterno companheiro, e com um beijo na altura da testa, abençoou seu Mestre. Agora ele entendia o valor da sua Peregrinação. Ele não passaria fome, nem medo, nem teria dúvida. O Mestre poderia não estar ali, em carne, mas estaria ali sempre, em espírito.
Sem a Sombra da Dúvida, Takaurana pegou seu Cajado e seu Jarro, seus únicos pertences agora, olhou para o Mestre mais uma vez e se despediu.
Talvez para sempre, mas com certeza, para nunca mais perdê-lo.
Com Carinho Compartilho.
Anjo Guardião Branco.
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